O Que a Coragem de Elisabeth Elliot Expõe em Nós
A maioria de nós ora pedindo direção. Mas poucos estão prontos para ouvir quando Deus responde com um caminho que parece… irracional.
A história de Elisabeth Elliot nos coloca exatamente nesse território. Antes de se tornar um nome conhecido no mundo cristão, ela era apenas uma jovem mulher tentando ouvir a voz de Deus. Mas ouvir essa voz não a levou a segurança, conforto ou previsibilidade. Levou-a ao coração da selva, diante de um povo que havia matado o próprio marido dela. Levou-a a caminhar na direção do medo e não na sua fuga. E é aí que o evangelho começa a ficar profundamente desconfortável.
O ponto menos explorado da jornada de Elisabeth não é o sacrifício, mas o tipo de obediência que ela viveu: não uma obediência emocional, inspirada por músicas de adoração, mas uma obediência lúcida, consciente, perigosa e cheia de riscos reais. Ela entrou numa aldeia onde havia a possibilidade concreta de morrer… por amor. Não por glória. Não por aventura. Não para ser lembrada.
Mas porque Cristo já tinha ido antes dela.
E aqui está o lado provocador: talvez nós tenhamos domesticado demais a vontade de Deus. Reduzimos o evangelho até que ele se encaixe na palma da nossa mão, pequeno o bastante para caber no nosso calendário e educado o suficiente para não mexer demais nas nossas prioridades. Mas a história de Elisabeth Elliot nos força a admitir: a vontade de Deus não cabe no nosso conforto, e a obediência real quase sempre arranha nossa autoconfiança, desafia nossas certezas e expõe nossos apegos.
Ela não voltou para a tribo para provar algo ao mundo, mas porque não conseguia ignorar o amor de Cristo pelos que pareciam impossíveis de amar. Ela caminhou em direção ao povo que matou seu marido porque entendeu que o inimigo não era o homem… mas o pecado que cega o homem.
E aqui surge a pergunta que preferimos evitar:
Quando foi a última vez que obedecemos a Deus de um jeito que realmente nos custou alguma coisa?
Não um esforço leve. Não uma mudança de rotina. Mas um custo real: orgulho, controle, segurança, estabilidade, imagem, previsibilidade.
Elisabeth Elliot nos lembra que fé não é apenas crer; é caminhar quando a lógica manda parar. É amar quando a dor manda recuar. É oferecer paz aos que só nos devolveram violência. É permanecer quando tudo dentro de nós quer fugir.
No fundo, a vida dela expõe o contraste brutal entre a nossa espiritualidade domesticada e o evangelho selvagem de Jesus, que nos chama a:
- perdoar quando não faz sentido,
- corresponder quando fomos feridos,
- abrir mão quando queremos segurar,
- avançar quando o medo grita,
- amar até onde o amor parece inviável.
Talvez a rendição alegre de Elisabeth não seja apenas uma atitude bonita, mas uma denúncia: nós nos contentamos com uma fé que não exige cruz.
E o Cristo que ela seguiu continua chamando:
não para um caminho seguro, mas para um caminho verdadeiro.
Não para uma vida confortável, mas para uma vida cheia de Deus.
Não para a autopreservação, mas para o amor que ultrapassa a lógica.
A pergunta, então, não é se admiramos Elisabeth Elliot.
A pergunta é muito mais íntima e mais incômoda:
Em que direção Deus está nos chamando que ainda estamos com medo de ir?
E o que aconteceria se, como ela, nós simplesmente disséssemos:
“Não posso voltar atrás agora.”
Referência:
Janet and Geoff Benge, Elisabeth Elliot : joyful surrender, YWAM Publishing, 2010