“O Reino dos céus é como um tesouro escondido no campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem e compra aquele campo.
Outrossim, o Reino dos céus é como um homem negociante que busca boas pérolas; e, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha e a comprou.”
Mateus 13:44-46
Há uma romantização perigosa nestas parábolas.
Falamos do “tesouro escondido” e da “pérola de grande valor” com um sorriso piedoso, como se fossem joias a serem adicionadas a nosso colar espiritual.
Mas leia de novo, devagar.
O homem que encontra o tesouro esconde-o de novo.
Não faz post no Instagram.
Não transforma em curso.
Não o coloca no altar como testemunho.
Ele esconde.
Há um segredo subterrâneo no Reino que desconfia das exibições.
E depois?
“Vende tudo o que tem” – não 10%, não o excedente, não o que sobra depois da aposentadoria.
Tudo.
A linguagem é de desapropriação existencial.
Não é “abrir mão do pecado”, é abrir mão do patrimônio, da identidade social, da segurança projetada.
E se o “tesouro” for, na verdade, uma perda?
Não no sentido ascético de sofrer por sofrer, mas no sentido de que encontrar o Reino pode significar perder o mundo que você conhecia – e, mais difícil, perder o “eu” espiritual que você havia construído.
A pérola de grande valor é buscada por um mercador.
Ele é profissional.
Sabe o preço das coisas.
E quando a encontra, toda a sua expertise, seu catálogo, sua carreira de avaliador, desmorona diante de uma pérola.
O especialista se torna obcecado.
E se o Reino invalidar sua espiritualidade de especialista?
Sua teologia sistemática, suas posições doutrinárias, suas convicções ministeriais – tudo pode ser negociável diante do único que importa.
O mercador não compra a pérola para acrescentá-la à coleção.
Ele troca a coleção inteira por ela.
Isso é perturbadoramente contemporâneo.
Vivemos na era da espiritualidade como acúmulo:
Acumulamos versículos, experiências, seguidores, cursos, unções, visões.
Nossa fé vira um patrimônio a ser protegido.
Mas e se o Reino for um anti-patrimônio?
Algo que não se possui, mas que nos possui?
Algo que não nos faz mais ricos no sentido do acervo, mas mais pobres – porque tudo o mais perde valor relativo?
O tesouro está escondido num campo.
Não numa catedral, não num acampamento, não num livro sagrado.
Num campo comum.
Possivelmente sujo, mundano.
O divino escondido no ordinário – e só quem está disposto a sujar as mãos de terra, a labutar no trivial, o encontra.
A pérola não surge do esforço do mercador.
Ele a encontra.
Mas estava procurando.
Há uma tensão aqui:
Busca ativa + encontro por graça.
Nem puro esforço, nem pura passividade.
Uma disponibilidade aguda que reconhece o valor quando ele aparece – mesmo que apareça onde não se esperava.
Por fim,
O que você chama de “tesouro” hoje?
Sua certeza doutrinária?
Sua posição eclesiástica?
Sua imagem de cristão equilibrado?
Sua coleção de conquistas espirituais?
E o que seria, para você, vendê-las?
Não por um ascetismo vazio, mas porque encontrou algo que torna todo o resto… moeda de troca.
O Reino não é um adorno.
É o que desadorna.
Não é um bem que se adquire.
É o que adquire você – e, no processo, leva tudo.
Se bateu forte aí dentro, fortaleça aqui fora.
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