Vivemos a era da fé confortável. Microfones ajustados, cadeiras acolchoadas, transmissões em alta definição e uma espiritualidade que cabe perfeitamente na agenda. Nesse cenário, a história de um homem que passou a vida inteira sobre um cavalo soa quase ofensiva.
Francis Asbury não foi um estrategista de marketing religioso. Foi um homem que entendeu que o Evangelho não nasce em centros, mas em caminhos.
Enquanto muitos buscavam estabilidade, ele escolheu movimento. Enquanto outros queriam reconhecimento, ele aceitou o anonimato das trilhas poeirentas. Não construiu templos imponentes — construiu gente.
A vocação que não cabe no conforto
O detalhe mais perturbador da história de Asbury não é o quanto ele pregou, mas como ele aceitou desaparecer para que Cristo fosse visto. Ele atravessou guerras, doenças, rejeições e solidão sem jamais renegociar seu chamado.
Hoje, muitas crises vocacionais não nascem da falta de oportunidade, mas do excesso delas. Queremos servir a Deus, desde que isso não nos custe segurança, saúde emocional, previsibilidade ou aprovação.
Asbury nos confronta com uma pergunta incômoda:
E se o chamado de Deus não for para subir, mas para ir?
A espiritualidade do “entre”
Asbury viveu suspenso entre mundos: inglês vivendo na América, líder sem palco fixo, pastor sem endereço permanente. Ele habitou o “entre” — entre o lar e a missão, entre a estabilidade e a obediência.
Talvez seja exatamente aí que muitos de nós evitamos viver. Queremos definições claras, territórios seguros, identidades bem delimitadas. Mas o Reino de Deus frequentemente se manifesta nos espaços instáveis, nos intervalos, nas travessias.
O “entre” nos ensina dependência.
E dependência é um discipulado que poucos desejam.
Disciplina: a linguagem esquecida do amor
Asbury acordava antes do amanhecer. Orava, lia, cavalgava, pregava, aconselhava, repetia. Não por legalismo, mas porque entendia algo que desaprendemos: disciplina não é opressão — é direção.
Em uma cultura que confunde espontaneidade com espiritualidade, ele nos lembra que maturidade espiritual raramente é acidental. O fogo do avivamento não se sustenta sem o lenho silencioso da constância.
Não há atalhos para uma vida entregue.
Há apenas fidelidade repetida.
O evangelho que anda mais rápido que a instituição
Asbury entendeu que a Igreja não cresce apenas quando se organiza, mas quando se move. Ele levou o Evangelho a lugares onde a instituição ainda não tinha chegado — e, às vezes, nunca chegaria.
Isso nos obriga a repensar nossas prioridades:
- Estamos esperando que as pessoas venham?
- Ou estamos dispostos a ir onde ninguém quer permanecer?
O Reino avança mais rápido quando encontra pés disponíveis.
E se o chamado ainda for o mesmo?
Talvez o maior erro seja pensar que histórias como a de Francis Asbury pertencem apenas ao passado. O contexto muda, mas o chamado continua exigente, desconfortável e profundamente simples: seguir Jesus onde Ele estiver indo.
Nem todos são chamados para a estrada literal.
Mas todos somos chamados a abandonar zonas de controle.
Porque o Evangelho ainda prefere caminhos a palcos.
E Deus ainda chama gente disposta a ir.
Referência:
Janet and Geoff Benge, Francis Asbury: Circuit Rider, YWAM Publishing, 2011
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