Como uma Limitação se Tornou o Maior Dom de Deus
“Creio que a maior bênção que o Criador me proporcionou foi quando permitiu que a minha visão externa
fosse fechada.” – Fanny Crosby
Imagine perder a visão aos seis semanas de idade por um erro médico. Imagine crescer em uma família
de fazendeiros pobres, órfã de pai, criada pela avó em meio às dificuldades da vida rural do século XIX.
Para muitos, essa seria uma história de tragédia e limitação. Para Fanny Crosby, foi o início de uma das
jornadas mais extraordinárias da história cristã.
Quando Deus Escreve com Linhas Tortas
Aos oito anos de idade, essa menina cega escreveu versos que revelariam o DNA de sua alma:
“Então pode chorar e soluçar porque sou cega
Oh, que menina contente sou eu,
Apesar de não poder ver,
Pois decidida estou que
Neste mundo alegre serei!”
Enquanto o mundo via deficiência, Fanny via possibilidade. Enquanto outros enxergavam limitação, ela
contemplava propósito. Essa perspectiva não nasceu de um otimismo ingênuo, mas de uma revelação
profunda que recebeu ainda criança, quando perguntou a Deus se poderia ser filha dele mesmo sendo
cega. A resposta que ecoou em seu coração foi profética: “Não se desanime, menina. Um dia você será
muito feliz e operosa mesmo na cegueira.”
O Paradoxo da Visão Espiritual
Aqui está a provocação que nos confronta hoje: Fanny Crosby, que nunca viu um pôr do sol com os
olhos físicos, conseguiu enxergar e transmitir as cores da glória de Deus com uma clareza que poucos
“videntes” jamais alcançaram. Ela escreveu mais de 9.000 hinos, sendo que muitos continuam sendo
cantados em igrejas ao redor do mundo mais de um século depois de sua morte.
Quantos de nós, com visão perfeita, estamos verdadeiramente cegos para as maravilhas de Deus?
Quantos, com todos os recursos e oportunidades, produzem uma fração do impacto espiritual que essa
mulher cega gerou?
A Disciplina da Intimidade
O segredo de Fanny não estava apenas em sua deficiência física, mas em sua disciplina espiritual. Ela
nunca escrevia um hino sem orar primeiro, pedindo a direção de Deus. Amava as “horas da noite para
comunhão com seu Senhor.” Decorou livros inteiros da Bíblia e desenvolveu uma memória extraordinária
que se tornou um repositório vivo da Palavra.
Pergunta incômoda: Em nossa era de distrações infinitas, quanto tempo dedicamos à comunhão íntima
com Deus? Fanny, sem televisão, internet ou smartphone, encontrava nas horas silenciosas da noite seu
tesouro mais precioso. E nós?
O Ministério Nascido do Quebrantamento
Fanny não apenas escreveu hinos; ela viveu um ministério integral. Trabalhou com alcoólatras na famosa
missão Bowery, foi a primeira mulher a falar diante do Senado americano, pregou em grandes igrejas e
se tornou uma das evangelistas mais eficazes de sua época. Tudo isso sendo uma mulher cega,
pequenina fisicamente, mas gigante espiritualmente.
Sua humildade era tão impressionante quanto seu talento. Usava 204 pseudônimos para não
monopolizar os hinários, nunca exigia remuneração adequada, vivia modestamente e doava grande parte
do que recebia. No final da vida, pediu que sua lápide tivesse apenas: “Tia Fanny – Ela fez o que pôde.”
A Revolução da Perspectiva
A lição mais poderosa da vida de Fanny Crosby não é sobre superar limitações, mas sobre redefinir o
que realmente significa “ver”. Ela declarou: “Nunca conheci o que é enxergar, e por isso não posso
compreender a minha perda. Mas tive sonhos maravilhosos. Tenho visto os mais lindos olhos, os mais belos
rostos e as paisagens mais singulares. A perda da minha visão não foi perda nenhuma para mim.”
O Desafio Para Nossa Geração
Hoje, quando cantamos “A Deus demos glória, porquanto do céu, Seu Filho bendito por nós todos deu”,
estamos ecoando as palavras de uma mulher que encontrou no que parecia ser sua maior limitação a
porta para seu maior ministério.
A pergunta que nos confronta é esta: O que você está classificando como limitação que Deus pode
estar querendo usar como sua maior ferramenta? Que “cegueira” em sua vida pode estar impedindo
você de enxergar distrações mundanas para focar no eterno?
Fanny Crosby nos ensina que não são as circunstâncias perfeitas que geram os ministérios
extraordinários, mas a rendição completa nas mãos de um Deus que escreve histórias lindas com
instrumentos que o mundo consideraria quebrados.
Uma Vida Que Ainda Fala
Mais de um século depois de sua morte, milhões de cristãos ao redor do mundo cantam as palavras que
brotaram do coração de uma mulher cega que enxergou mais longe que a maioria. Seus hinos
continuam tocando corações, trazendo salvação e edificando a igreja de Cristo.
Que legado você está construindo? Que canção sua vida está escrevendo? Lembre-se: Deus não
precisa de suas perfeições para realizar seus propósitos. Ele precisa de sua disponibilidade.
Como Fanny nos ensinou, às vezes é necessário que nossa visão externa seja fechada para que nossa
visão espiritual seja aberta. Às vezes é no vale da limitação que descobrimos os picos do propósito
divino.
“A Deus demos glória!” – não apesar de nossas limitações, mas através delas.